sábado, 27 de agosto de 2011

Borboletas no aquário


                     I

Mantinha borboletas
No aquário.

Sentava-se  próximo
Com as mãos no rosto
Espalmadas
E tecia um fio de tempo
(Só seu)
A admirar, através da transparência

Das cortinas,
Um balé de cores
Que reverberavam, reverberavam...

                                      
                    II


Mantinha borboletas
No aquário
O silêncio a balbuciar-lhe
Regozijos de naufrágios...

Mas, quando as mãos insensíveis
Não pressentiram mais as cores
E a visão turva admitiu
Guelras na fala
Ao fio partido
Gritou
Ah, gritou!

Suspensos ao eco
Todos os mares não desbravados!

                   III

Uma chuva fina e persistente
Lambia os alicerces do passado
Quando fez o que, há tempos, cogitava:

- Mirou o ponto luminoso no teto de tudo
- Guardou os álbuns de todas as renúncias
  Na gaveta do armário
- Fez par com a vida, num beijo inusitado
- E, finalmente, convicto, quebrou o aquário.





 

Lançamento - Borboletas no aquário

O lançamento do meu novo livro "Borboletas no aquário",  acontecerá no dia 02 de setembro, sexta-feira, às 21:00h, no Clube Literário e Recreativo de Sertãozinho, Rua Aprigio de Araújo, 930.
A belíssima capa é criação do grande artista plástico sertanezino Vicente Cornetta.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

ELEIÇÃO

                                          Membros da Academia Sertanezina de Letras - ASEL


A Academia Sertanezina de Letras - ASEL, em reunião realizada no dia 06 de julho de 2011, escolheu, através do voto secreto, conforme prevê o Estatuto Social, três novos membros efetivos: Marcos Favaretto, Joana D'arc Tobias Vieira e Thiago Antonio Quaranta. Três candidatos não conseguiram a maioria absoluta dos votos.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O preço do poema

            
             I


Quanto vale o poema:
- nas frentes de batalha
- nas perdas irreparáveis
- na solidão que a alma talha?

Quanto vale o poema:
- aos nossos filhos drogados
- aos órfãos do destino
- aos desenganados?

O poema faz seu preço
ou o preço do poema
pelo tamanho da fome
é estipulado?

Quanto vale o poema:
- nas filas dos hospitais
- nas mutilações dos sonhos
- nas nossas guerras pessoais?

Quanto vale o poema:
- aos idosos desrespeitados
- às minorias esquecidas
- aos amantes desregrados?

O poema faz seu preço
ou deveras
estou enganado?


          

               II



Quanto nos cobra o poema:
 - por uma sinfonia de metáforas
 - por uma visitação à alma
 - por um deslumbre de voos?

Ou desapegado da matéria
doa-nos, ele, complacente
as suas inefáveis asas?


O preço do poema, senhores
é o poeta quem paga!












    








quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Metáforas do descaso

                                Cecília Meireles
                                           imagem google
 

Opressoras palavras
que mal (ditas)
reverberam falácias:
- quanto vale uma corrompida
metáfora?

Opressora desigualdade
estampada nas crônicas
dos viadutos
nos cárceres das calçadas:
- quem acalentará os sonhos
ah, inevitável alvorada!

Opressora discriminação
pelo silencioso véu legalizada:
- mas, noite e dia não são adornos
de um único céu?

“Não sou alegre
nem sou triste...”

E no deserto da indiferença
entre opressores e oprimidos
a poesia, simplesmente,
resiste...

      

   Poema vencedor do Prêmio Literário Ziraldo
   10a Feira do Livro de Ribeirão Preto/SP 
   Mário Massari